terça-feira, 23 de abril de 2013

A Santinha



 
        Quando eu tinha sete anos, morava, juntamente com meus pais e meus três irmãos, na casa da minha avó materna, Antônia, na cidade de Catanduva, interior paulista.
 
        Sempre tive uma ligação muito forte com essa avó, ela é minha madrinha e sempre foi muito amorosa com seus netos; aliás, com todas as pessoas de seu convívio.
 
        Hoje, quando escrevo isso, ela já está com 98 anos e continua a mesma criatura meiga e tranquila de sempre.Com seus cabelos branquinhos e a pele rosada, ela mais se parece com uma bonequinha...
 
        Nessa ocasião dos meus sete anos, quando morávamos em sua casa, ela era já  viúva e sua rotina era cuidar da casa e de sua loja, um bazar localizado na parte dianteira lateral da casa. Havia uma interligação entre a casa e a loja pela varanda, ou alpendre, como se dizia.
 
        Em seu quarto, em cima da penteadeira, ficava uma santinha de louça, pintada de azul claro, muito delicada. Era oca por dentro, e minha avó dizia havia ganhado de seu pai. Quando criança, minha avó a levava para a escola. No caminho, em uma estrada de terra, ela passava por uma fonte, e então utilizava a santa, recolhendo a água pura e bebendo como se ela fosse um copinho.
 
        De tanto eu pedir, um dia ela me deu a santinha. Fiquei muito contente e a guardei com muito carinho durante todos esses anos - e olhem que já sou, também, avó!
 
        Mudei-me algumas vezes de casa e de cidade, indo morar em outro Estado, e sempre zelei para que a minha santinha não se quebrasse. Há alguns anos, depois que já se tinham passado mais de três décadas do "presente", numa das minhas visitas à minha avó, eu a levei, enroladinha em um lenço dentro da minha bolsa. "Veja só, avó, o que trouxe para mostrar para a senhora"; Sua fisionomia foi de absoluto espanto: "Minha nossa!!!!!!você ainda a tem?????".



 

sábado, 13 de abril de 2013

Botella azul



        Eu a vi em uma "tienda" em Santiago do Chile e foi um amor fulminante por aquela peça tão detalhadamente lapidada em lápis lázuli. Isso ocorreu em novembro de 2008. Estávamos de férias no Chile e fomos ao Pueblito Los Dominicos, feira de artesanato que contempla o que há de melhor e mais representativo do povo chileno.

        Não tive coragem de comprá-la, entretanto. O preço era compatível com o valor da peça, portanto, um pouco salgado para o meu bolso.

        Terminamos o passeio, fiz mais algumas fotos e voltamos ao hotel.  E a lembrança daquela linda garrafa azul não me saía da memória.

        Passaram-se dois dias de "compro, não compro?" até que me decidi: voltaremos para eu dar uma última olhada. Se ela tiver sido vendida, bem. Se não, se não...

        E lá estava ela: esperando por mim. Leve-me, sou uma destas peças que se deixa de herança...

        E passei o cartão. Pronto, a loucura estava feita.
        Nunca me arrependi.




Torres da igreja em Pueblito Los Dominicos
Pueblito Los Dominicos