quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Princesa dos Sete Castelos

        
Meu conto de fadas preferido era A Princesa dos Sete Castelos. Ganhei o livro em 1967 e o li e reli muitas vezes, admirando as gravuras delicadas que ilustravam a história.

         Desde que fui alfabetizada, adquiri o hábito da leitura. Era um verdadeiro "ratinho de biblioteca". Aos nove anos, eu havia lido toda a biblioteca infantil que havia na estante de meu pai: as coleções de Monteiro Lobato, do Mundo da Criança e todos os contos de fadas disponíveis em casa. Estava sempre pedindo: mãe, compra um livro novo para mim?

         Uma tarde, ela me chamou para sair e disse: pegue um dos seus livros, vamos    doá-lo à biblioteca pública, pois, assim, você se tornará sócia. Oba! Agora vou ter milhões de livros novos para ler. Entretanto, na pressa, só encontrei o livro da Princesa dos Sete Castelos. E agora, mãe? Não encontro os outros livros, e esse é o meu favorito. Ela me respondeu que não havia problema, poderia doá-lo, que ele ficaria disponível na biblioteca para quando eu quisesse lê-lo.

 Assim foi. No meu livro havia gravuras muito bonitas, mas daqui e dali, aos poucos, a cada empréstimo, as folhas se perderam. Um dia, quando fui retirá-lo a bibliotecária me disse: não consta no acervo. Como não, fui eu quem o doei, pode verificar de novo? Mas meu livro não existia mais. Creio que foi ficando "desmilinguido", restando só folhas soltas, até que foi descartado. Que pena, eu gostava tanto dele!

         Já adulta, passei alguns anos colocando anúncios em jornais e revistas, procurando o conto para comprar, mas ninguém me dava notícias. Um dia, alguém me orientou a procurar o título na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Lá ficam armazenados os microfilmes de todas as obras publicadas no Brasil. Consegui comprar o microfilme, e depois, em um equipamento especial na biblioteca do Senado Federal, em Brasília, eu o imprimi, finalmente, em papel.

          Passaram-se muitos anos, veio a internet, o que propiciou intensificar a procura em sebos virtuais, e nada. Da minha infância até ali, já se haviam passado mais de quarenta anos, parecia impossível conseguir encontrar esse livro novamente. No final de 2011, meu primo Antônio Daniel Brito, que mora em Portugal, descobriu que havia sido reimpresso em Lisboa e me enviou um exemplar. Fiquei muito contente ao   recebê-lo, porém, nessa nova edição, não foram inseridas as belíssimas ilustrações de Inês Guerreiro.
 
 
      Foi na busca desse livro que fiquei conhecendo  a escritora. Não pessoalmente, que já era falecida, mas sua obra e sua vida, pois, além de contos e poesias, escreveu dois volumes de memórias. Essa descoberta foi meu grande prêmio. Procurando o livro, conheci a escritora portuguesa Fernanda de Castro. Amiga de Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, retratada por essas duas grandes pintoras brasileiras, participante da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Uma mulher excepcional, corajosa, empreendedora, de grande vitalidade.

        Só então, eu reencontrei o livro da minha infância.

Brasília, maio de 2013.
  

 






Nota - Livro comprado em 2012,  por intermédio da Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br).
No alto, fotos da escritora Fernanda de Castro e do livro publicado no Brasil pela Rio Gráfica Editora. Abaixo, quadros que retratam a escritora. O da esquerda é de autoria de Anita Malfatti e o da direita é de Tarsila do Amaral
A família de Fernanda de Castro administra, em Lisboa, a Fundação Antônio Quadros, nome do  marido da escritora.