segunda-feira, 8 de abril de 2019

Dona Luiza


          Era muito velha e eu, criança, a analisava: magra, bem magrinha, toda ossos e rugas. Eram tantas as rugas que toda sua pele parecia um pergaminho....

          Mas o que tinha de idosa, dessas de idade indefinida, tinha de vivacidade. Adorava conversar. E eu, menina dos meus 7 ou 8 anos, gostava de ouvir. Um adulto conversando um tempão comigo, criança, me enchia de importância. E ela, com certeza, se comprazia na atenção daquela garota, ali sentada ao seu lado no degrau de sua casa humilde, cuja porta dava diretamente na calçada.

          Não me lembro do que falava, casos de sua vida, pessoas que conheceu...não me lembro. Apenas que era bom ficar ali em frente à rua, onde algumas pessoas  paravam para cumprimentar e conversar um pouco também.

          Ás vezes, ela me convidava a entrar. Sua casa era humilde, móveis antigos e simples. Ela tinha gatos, o que me agradava muito. Sempre fui apaixonada por felinos.

          Minha casa era perto, a uns 30 metros, na mesma calçada. A vizinhança era toda conhecida. Em frente à casa da dona Luiza, tinha a oficina do Seu Pedro sapateiro. Depois, a loja de móveis do Vitussi. A casa do advogado Dr. Paulo e sua linda esposa, que não me recordo o nome. Depois, o bar do pai da Mike, amiga de todas as meninas da vizinhança. Do outro lado, o bazar da minha avó Antonia. E a nossa casa ao lado. Na verdade, a casa era da minha avó, e com ela moramos por alguns anos da minha infância.

          Eu circulava naquela redondeza, brincava com a minha amiga Sandra Bróglia, filha do farmacêutico da esquina. Tempos felizes, de brincar com bonecas, pular corda, ler gibi.

          E de vez em quando, uma visitinha na casa da dona Luiza, levar alguma coisa que minha mãe tinha preparado, algum legume ou verdura do quintal, onde meu pai cuidava da horta.

          Ficaram algumas peças de crochê que ela me deu, feitas quando ela era moça, à luz do lampião.

          E a lembrança das nossas tardes sossegadas, sentadas no degrau em frente à calçada.