domingo, 7 de agosto de 2016

Boneca dorminhoca


Sua especialidade era a confecção de bonecas. Não qualquer boneca, mas as dorminhocas. Elas eram muito apreciadas entre os anos 1960 e 1970. Feitas de pelúcia, com pés, mãos e cabeça de borracha, eram enfeitadas com rendas e fitas. O costume era deixar a boneca em cima da cama, enfeitando o quarto.

Durante minha infância, acompanhei muitas vezes o processo de confecção dessas bonecas, pois era a minha avó Antonia Colombo Maciel quem as fazia. Proprietária do Bazar Colombo em Catanduva, interior de São Paulo, as bonecas dorminhocas eram o principal atrativo da loja. As pessoas vinham de longe encomendá-las, pois diziam que as suas eram as melhores, as mais bem-feitas.

O primeiro passo era colocar o tecido de pelúcia esticado sobre a mesa. A cor, a freguesa escolhia: rosa, vermelha, amarela, azul claro, azul marinho, laranja... Depois vinham os moldes - touca, corpo, braços e pernas. Minha avó cortava e costurava, fazendo o enchimento com palha. Na região da barriga não havia enchimento, pois era onde a dona da boneca geralmente  guardava seu  pijama ou  camisola. Para isso, se costurava um zíper no dorso. E assim a boneca começava a tomar forma. As mãos e pés eram costurados, a cabeça colocada no lugar, o cabelo sintético, louro ou castanho, era pregado na touca. Depois vinham os acabamentos: fitas de cores combinando com a pelúcia, renda branca ou colorida. Por último se acrescentava a chupetinha, as aplicações com rosinhas de tecido na touca e no babador. E a gente por perto, admirando o resultado final: uma beleza! 

Aí então a boneca era colocada na vitrine da loja, onde as clientes paravam para admirar e perguntar se aquela era encomenda, ou se estava à venda. E a minha avó, toda faceira: "não, esta é uma encomenda, mas posso fazer outra do jeitinho que você quiser!". E eu, que nas férias escolares adorava ficar com minha avó no bazar, a  ajudava a anotar os pedidos e a embrulhar as lindas bonecas, no momento em que as vinham buscar.

Certo dia, cheguei quando ela estava fazendo uma dorminhoca rosa (minha cor favorita), lindíssima, com os acabamentos minuciosamente escolhidos. Fiquei olhando admirada e perguntei para quem era. A minha doce avó me mentiu, tranquilamente: "é para uma mulher que mora aqui perto, uma encomenda especial". Pois sim. Essa encomenda especial me foi dada dias depois, no meu décimo aniversário...

Alguns anos mais tarde, ela pediu para lhe entregar a boneca, pois iria reformá-la para mim. E poucos dias depois ganhei uma  dorminhoca totalmente reformada, agora na cor azul marinho. Ela continua impecável, pois desde então a guardo com muito cuidado.


Escrevo estas linhas hoje em homenagem a minha amada avó, que na manhã deste dois de agosto partiu para o mundo espiritual.


4 comentários:

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  2. Gostaria de ter o molde. Minha mãe também fazia. Se tiver mande pra mim por favor lauralobato11.ll@gmail.com.

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    1. Que pena, não tenho...
      Tente encontrar na internet, quem sabe?

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  3. Quando pequena ganhei uma azul, linda igual a sua mas anos mais tarde, quando faltavam alguns cabelos, roubaram-na de mim. Fiquei furiosa.Guarde a sua com carinho. Eu não fui capaz.

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