Sua especialidade era a confecção de bonecas.
Não qualquer boneca, mas as dorminhocas. Elas eram muito apreciadas entre os
anos 1960 e 1970. Feitas de pelúcia, com pés, mãos e cabeça de borracha, eram
enfeitadas com rendas e fitas. O costume era deixar a boneca em cima da cama,
enfeitando o quarto.
Durante minha infância, acompanhei muitas
vezes o processo de confecção dessas bonecas, pois era a minha avó Antonia
Colombo Maciel quem as fazia. Proprietária do Bazar Colombo em Catanduva,
interior de São Paulo, as bonecas dorminhocas eram o principal atrativo da
loja. As pessoas vinham de longe encomendá-las, pois diziam que as suas eram as
melhores, as mais bem-feitas.
O primeiro passo era colocar o tecido de
pelúcia esticado sobre a mesa. A cor, a freguesa escolhia: rosa, vermelha,
amarela, azul claro, azul marinho, laranja... Depois vinham os moldes - touca,
corpo, braços e pernas. Minha avó cortava e costurava, fazendo o enchimento com
palha. Na região da barriga não havia enchimento, pois era onde a dona da
boneca geralmente guardava seu pijama ou camisola. Para
isso, se costurava um zíper no dorso. E assim a boneca começava a
tomar forma. As mãos e pés eram costurados, a cabeça colocada no lugar, o
cabelo sintético, louro ou castanho, era pregado na touca. Depois
vinham os acabamentos: fitas de cores combinando com a pelúcia, renda branca
ou colorida. Por último se acrescentava a
chupetinha, as aplicações com rosinhas de tecido na touca e no babador.
E a gente por perto, admirando o resultado final: uma beleza!
Aí então a boneca era colocada na vitrine da
loja, onde as clientes paravam para admirar e perguntar se aquela era
encomenda, ou se estava à venda. E a minha avó, toda faceira: "não, esta é
uma encomenda, mas posso fazer outra do jeitinho que você quiser!". E
eu, que nas férias escolares adorava ficar com minha avó no bazar, a
ajudava a anotar os pedidos e a embrulhar as lindas bonecas, no momento em
que as vinham buscar.
Certo dia, cheguei quando ela estava fazendo
uma dorminhoca rosa (minha cor favorita), lindíssima, com os acabamentos
minuciosamente escolhidos. Fiquei olhando admirada e perguntei para
quem era. A minha doce avó me mentiu, tranquilamente: "é para uma mulher
que mora aqui perto, uma encomenda especial". Pois sim. Essa encomenda
especial me foi dada dias depois, no meu décimo aniversário...
Alguns anos mais tarde, ela pediu
para lhe entregar a boneca, pois iria reformá-la para mim. E
poucos dias depois ganhei uma dorminhoca totalmente reformada, agora
na cor azul marinho. Ela continua impecável, pois desde então a guardo com
muito cuidado.
Escrevo
estas linhas hoje em homenagem a minha amada avó, que na manhã
deste dois de agosto partiu para o mundo espiritual.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirGostaria de ter o molde. Minha mãe também fazia. Se tiver mande pra mim por favor lauralobato11.ll@gmail.com.
ResponderExcluirQue pena, não tenho...
ExcluirTente encontrar na internet, quem sabe?
Quando pequena ganhei uma azul, linda igual a sua mas anos mais tarde, quando faltavam alguns cabelos, roubaram-na de mim. Fiquei furiosa.Guarde a sua com carinho. Eu não fui capaz.
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